Câncer de mama: como Jurema transformou o otimismo no melhor remédio para enfrentar a doença

26/10/2022 às 18:53 - São Pedro da Serra

Jurema Hensel descobriu o câncer de mama em setembr de 2021
Jurema Hensel descobriu o câncer de mama em setembr de 2021

A regra está dada: não se fala em tratamento no dia-a-dia. Mas elas abriram uma exceção. Na última segunda, 24, Jurema Hensel e a filha Vanessa Kohl abriram o coração sobre um diagnóstico que assusta milhares de mulheres no Brasil todos os anos: câncer de mama. No Rio Grande do Sul, a cada 100 mil mulheres, 80 receberão a notícia de que desenvolveram o câncer de mama, um dos mais altos índices no Brasil segundo a Secretaria Estadual da Saúde. O Outubro Rosa, campanha que alerta sobre prevenção desde os anos 90 nos Estados Unidos e a partir de 2008 no Brasil, é necessária pois embora esse seja um problema recorrente o ano inteiro, a campanha faz com que as mulheres parem pelo menos uma vez no ano para cuidarem de si mesmas.

 

Jurema, moradora de São Pedro da Serra, desde o ano passado está em tratamento de um câncer descoberto na fase um. Mas ela logo desmistifica que, não é o estágio em que o câncer é descoberto que a fez encarar a doença de frente, mas sim a fé e a vontade de vencê-lo. A descoberta veio durante a pandemia do COVID-19. Logo após se imunizar com a segunda dose da vacina, ela acordou com calafrios e acreditou que tivesse uma reação à vacina. Mas, foi durante o banho que sentiu que não era só isso: encontrou um caroço nas axilas. ‘Chamei minha filha Vanessa e fomos ao posto de saúde, onde o clínico geral já me encaminhou para todos os exames, como mamografia e ecografia’, recordou Jurema. Nesse dia, uma das irmãs de Jurema estava no posto e perguntou o que ela tinha. ‘Lembro do dia, era 23 de setembro. Depois de um tempo esse caroço inclusive sumiu. Isso porque ele era muito pequeno, menor que um milímetro, não senti dor alguma. Mas o diagnóstico veio: câncer de mama’, recorda Jurema.

A filha Vanessa conta que a mãe precisou ainda de uma biópsia para saber se era mesmo câncer de mama, pois não conseguiram nos exames iniciais definir se era um câncer de mama ou ósseo. ‘Não sabiam o tipo, aí ela foi fazer a biópsia sozinha no Hospital, onde fez uma anestesia local e em 15 minutos saiu caminhando. Liguei para ela e na hora deu a resposta: é câncer de mama’, recorda Vanessa. A filha, ainda em choque, devolveu: ‘o que você está fazendo agora?’ e a mãe dela respondeu: ‘comendo xis’. A filha conta que passou duas semanas chorando, desesperada com a notícia. ‘Mas eu pensei, não posso ficar assim, tenho que estar ao lado da minha mãe’, avaliou. Disse que nos primeiros dias, vigiava o sono de Jurema, pensando que sua mãe poderia estar ansiosa, sem dormir, pensando no diagnóstico. Mas não, Jurema descansava normalmente.

 

Foi então que a regra foi criada na casa da família. Jurema, Vanessa e o namorado dela, José Luciano Schuh não falariam de tratamento de câncer de mama ou da doença em si em nenhum dia da semana, exceto nos dias de consulta e exames. Bilhetes com mensagens de carinho e coragem eram espalhados pela casa. Cada decisão sempre era tomada em família e a vida seguiria normalmente. ‘Meu médico me encaminhou para acompanhamento psicológico e eu nunca quis. Minha filha dizia: ‘mãe, então eu quero’’, recorda aos risos. Porém, em cada visita ao consultório da oncologia, o médico lembrava: não abdicar dos prazeres da vida, dos hobbys. E foi assim que a família fez. A horta da casa em dia, passeios, shows nativistas, os preferidos dos três, faziam e fazem parte da rotina. ‘No início me doeu que não pude cavalgar, era prescrição médica, mas depois de um tempo fui liberada para montar e o dia que cavalguei novamente foi uma festa’, diz Jurema.

 

Jurema e a filha Vanessa
Jurema e a filha Vanessa

Jurema defende o mantra para encarar o câncer de mama de ‘família, cabeça, e o resto é a medicina’. ‘Nunca nos deixar abalar, apesar que tenho os dias que quero sim, ficar mais quietinha no meu canto. Não tive enjoos durante as quimioterapias, que foram seis, só não sinto mais tanto prazer ao comer carne’, explica. Mas apesar de encarar com otimismo o diagnóstico, Jurema e a filha defendem que sabem que cada mulher receberá o diagnóstico e passará pelo tratamento de maneira diferente. ‘São pessoas diferentes, corpos diferentes. Não vão reagir igual. Então é importante trocar experiências, ouvir as histórias de quem já passou ou passa por isso, mas cada processo será diferente’, diz Vanessa.

Ambas falam que sim, a palavra câncer pesa. Mas a fé e a coragem a fizeram seguir em frente todos os dias. ‘Fomos muitas vezes ao túmulo dos meus avós, conversar, pedir proteção. Tentamos todos os dias focar nas coisas boas, nos abraçar e tocar pra frente’, disse, emocionada, a filha Vanessa. E sobretudo saber que os cuidados serão para sempre. ‘Uma vez que o câncer apareceu, o cuidado é para toda uma vida’, destaca Jurema.

 

 

Mensagens carinhosas pela casa encorajavam Jurema
Mensagens carinhosas pela casa encorajavam Jurema

E com esse entusiasmo buscando vencer todos os dias que Jurema, amparada pela filha Vanessa e o genro Luciano, comemora cada passo alcançado. Foi assim no dia da última quimioterapia, quando Jurema chegou em casa e encontrou a sala enfeitada de balões. Ou mesmo no dia em que teve que raspar a cabeça, quando o sentimento de perda abalou Jurema. A filha tornou o momento mais um passo da luta, e poucos dias depois ela encarou o mundo sem cabelos, indo a um restaurante sem qualquer apetrecho, como lenço ou chapéu. ‘Nunca pensei na vida que minha mãe fosse morrer, foi um baque a notícia. Mas encaramos as angústias com coragem e resolvemos agir. Peço até desculpas para as pessoas que muitas vezes liguei inúmeras vezes em busca de ajuda, informação, mas todos sempre nos trataram muito bem’, avalia Vanessa.

E com esse sentimento de gratidão que Jurema enumera inúmeras pessoas que a apoiaram nesse processo, como os profissionais do posto de saúde de São Pedro da Serra e do Hospital Centenário, médicos Ailson e Lucas, enfermeiras, as cabeleireiras que fizeram o corte no dia que decidiu raspar a cabeça, o escritório onde Vanessa trabalha, e claro, a sua família, como as irmãs Liane, Rejane, o irmão Bernardo e seus familiares. ‘São muitas pessoas, só tenho a agradecer’. E Jurema finaliza: ‘sim, somos guerreiras nessa luta’.

 

Primeira cavalgada de Jurema após descoberta da doença