Líder emancipacionista de Salvador do Sul e São Pedro da Serra falece aos 95 anos

30/09/2022 às 11:40 - São Pedro da Serra

Líder emancipacionista de Salvador do Sul e São Pedro da Serra falece aos 95 anos
Líder emancipacionista de Salvador do Sul e São Pedro da Serra falece aos 95 anos

Faleceu no dia 27 de setembro uma das personalidades mais importantes e carismáticas da região. Silvio Mallmann, um dos líderes emancipacionistas de Salvador do Sul, que na semana que vem comemora 59 anos, faleceu aos 95 anos. Ele estava internado no Hospital São Roque, em Carlos Barbosa.

Em diversas oportunidades, o jornal Expressão Regional conversou com Silvio, sobretudo para relembrar os momentos de luta pela comunidade, o qual ele foi muito atuante. Os filhos e neto de Silvio inclusive seguiram seus passos sendo eleitos no município de São Pedro da Serra para os cargos de prefeito e vereadores. Em 2020 comemorou com sua esposa Maria Selma, 70 anos de casados, momento o qual recordou com muito carinho, dos tempos de namoro até a construção de sua família.

Além de emancipacionista de Salvador do Sul, participou do mesmo movimento em São Pedro da Serra, em 1992, onde construiu seus negócios e morou durante toda a vida.

Recorde a matéria especial dos 70 anos de Silvio e Maria Selma

Após 70 anos de matrimônio, casal celebra Bodas de Vinho

A caixa do supermercado passava os itens
de um cliente quando ele suspirou: ‘São Pedro da
Serra... para essa cidade que um rapaz trouxe uma
das jovens mais bonitas da Linha Lenz’, comentou.
A caixa do supermercado, Lona Mallmann, filha do

casal aos quais a pessoa se referiu, reconheceu a his-
tória de imediato. ‘Acho que sei de quem você está

falando’, disse aos risos. A jovem bonita de olhos
claros é Maria Selma, que encantou o jovem rapaz
também de olhos azuis Silvio, lá na década de 40.

Silvio e Maria Selma, 93 e 92 anos respectivamen-
te, se uniram em matrimônio no dia 13 de maio de

1950. São 70 anos de uma caminhada a dois, bodas
de vinho.
Lá na Linha Lenz, localidade do interior da
cidade de Estrela, estava o jovem Silvio, com apenas
15 anos, no baile da comunidade. Ele avistou então
uma guria bonita, de vestido vermelho. Convidou-a
para dançar. Mal sabiam os dois que ao bailar pela

primeira vez estavam prestes a escrever uma histó-
ria inspiradora. Sete filhos, 15 netos, 11 bisnetos. O

12o bisneto a caminho. ‘Está para nascer na próxima
semana’, lembrou Silvio. Na casa no coração de São
Pedro da Serra, o casal Maria Selma e Silvio tem ainda
o mesmo carinho lá do início do casamento. Sentados
lado a lado na sala, ela já com um pouco mais de
dificuldade de mobilidade, necessitando de cadeira
de rodas, dão as mãos e trocam conversas. ‘Ela bem
que tinha um pretendente que não era eu, irmão do
marido da irmã dela. Mas não deixei escapar’, falou
seu Silvio, encarando a esposa com um sorriso. Ela,
em alemão, retrucou. ‘Temos um casamento muito
bonito, nossos filhos, netos, bisnetos. Todos são nosso
orgulho’, afirmou.
Do dia do matrimônio,

tanto Silvio como Maria Sel-
ma lembram de detalhes. O

vestido de noiva com longo
véu foi presente da madrinha
da noiva. ‘Ela costurou o

vestido e me deu de presen-
te’, recorda dona Maria. Já

Silvio recorda que a festa
foi bem farta. ‘Não faltou
carne e cerveja o dia todo’,
disse, contente. A cerimônia,
celebrada na igreja de Santo
Antônio, na cidade natal da
noiva, Estrela, ocorreu pela
manhã. A festa foi ao ar livre,
debaixo de uma frondosa
árvore, com uma mesa só,

comprida, para todos senta-
rem juntos. ‘Foram cinco anos de namoro até o grande

dia, e nos víamos por um bom tempo só a cada seis
meses. Era muito difícil o acesso até lá’, avalia Silvio.

Em tempos de smartphones, aplicativos e con-
versas nas redes sociais, o romance parece não ter a

mesma intensidade, sobretudo quando se conhece
histórias como do casal Silvio e Maria Selma. Ele
conta que chegou a caminhar 20 quilômetros a pé,
até Poço das Antas, para pegar um ônibus até Estrela
para visitar a amada. ‘Colocava a malinha no ombro
e caminhava. Tinha vezes que o ônibus chegava em
Maratá e tinha que parar por causa da chuva, estava
tudo alagado. Aí tínhamos que dormir por lá mesmo
e esperar o dia seguinte’, explica.

Vida em São Pedro da Serra

 

Pessoas simples, mas de grande visão, o casal Silvio e Maria Selma construíram suas vidas em São
Pedro da Serra deixando marcas. Silvio, por exemplo, foi um dos emancipacionistas de Salvador do Sul,

inspirando a vida política inclusive na sua família, onde teve um filho prefeito, Adelar, filho vereador, Da-
nilo e um neto vereador, André. A esposa, escolhia apenas votar. ‘Ela dizia ‘não tenho tempo para isso’’,

recordou seu Silvio dando risada.
Como trabalhadores, Silvio e Maria Selma sempre foram muito dedicados, ele na empresa iniciada
pelo pai, uma olaria, e ela na agricultura. ‘Ela tirava o leite, capinava, cuidava de tudo, tinha os recibos do
leite organizadinhos’, recorda Silvio. Moraram em algumas casas até chegar na atual propriedade. Sempre

com simplicidade, seu Silvio diz com convicção ‘qualquer casa servia, nunca achei que precisava de man-
sões, casas grandes, só nosso canto’. Mas sempre soube prosperar e ajudar os filhos no que podia. E quando

chegou a hora de se aposentar, fez questão de curtir com a esposa na praia. ‘Por mais de 10 anos eu dirigia
até o balneário Ipiranga em dezembro e só voltávamos em março. Jogava bocha e tomava banho de mar.
Ahh, eu adoro o mar’, suspirou seu Silvio, recordando. Foi numa dessas viagens ao litoral que dona Maria
Selma deu os primeiros sinais da dificuldade para caminhar. ‘Tivemos que voltar para casa’, recorda Silvio.
Entrevistamos seu Silvio na cozinha, enquanto a dona Maria se aprontava para vir a sala conversar

também. Com sete décadas de casamento, a pergunta que todos querem fazer é, como chegar lá? Seu Sil-
vio falou que não quer de modo algum criticar a juventude atual, sabe que o mundo mudou (mesmo não

curtindo muito os smartphones, ele diz que prefere conversar com as pessoas), mas que no seu casamento
nunca houve um problema sério a ponto de uma discussão grande. ‘Tem que ser gente’, sugere. E por fim,
sentencia: se pudesse, casava com ela de novo.
A cuidadora do casal chama, dona Selma está pronta, aguardando na sala. Conversamos bastante, como
pode ser acompanhado nesta matéria. Mas no fim, perguntamos: dona Selma, como chegar aos 70 anos de
casamento? Ela responde rapidamente: se eu tivesse que casar hoje, casava com Silvio novamente.
E o conselho final de seu Silvio, após ouvir dona Selma dizer essas palavras foi: ‘É viver em paz.
Pensar no melhor para os filhos, para a família. O restante, não nos diz respeito. Aí no fim, dá tudo certo’.