Sem democracia não há imprensa livre

20/01/2023 às 18h47

Cathierine Hoffmann - Jornalista

Cathierine Hoffmann - Jornalista

Jornalista, formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Comunicadora multimídia, assessora de imprensa e editora reponsável do Expressão Regional

 

Oito de janeiro. Nunca na história do País tantas imagens divulgadas pelo trabalho incansável da imprensa revelaram tamanha destruição e violência contra a democracia   e os profissionais de imprensa como nesse fatídico domingo. Foi ultrajante nos depararmos com cenas de  tamanha barbaridade, na data em que se celebraram o Dia Nacional da Fotografia e o Dia do Fotógrafo. Profissionais sofreram ameaças e violência física e psicológica. Muitos tiveram seus equipamentos roubados ou avariados. Os relatos das vítimas das agressões são impressionantes.

Não por acaso a data dos atos terroristas em Brasília aproxima-se do 6 de janeiro, dia em que, nos Estados Unidos, em 2021, o Capitólio foi invadido e violentado por membros de movimentos antidemocráticos ligados à extrema direita americana e simpatizantes do então presidente Donald Trump. No Brasil, as agressões também cresciam a olhos vistos desde o início do governo Bolsonaro, simpatizante e defensor do ex--presidente americano.

Ainda assim, causou estranheza que parte da imprensa, até os lamentáveis acontecimentos do dia 8, ainda tratasse como ‘manifestantes’ ou com outros termos neutros e sutis os que defendiam abertamente, com armas e discursos ameaçadores, um golpe de Estado %u2212 ou seja, um crime contra a democracia. O estrago promovido pelos terroristas em Brasília mostrou o quanto essa parte da imprensa subestimou os agentes das sombras que ameaçam a sociedade e a democracia brasileiras.

Mas se existe um lado bom da história é o de reconhecer que os ataques e a tentativa de golpe de Estado fracassaram. As instituições e o atual governo certamente sairão mais fortalecidos %u2212 e atentos %u2212 após esses funestos acontecimentos. E a imprensa aprendeu que os inimigos da democracia são também seus inimigos, e que é imprescindível identificá-los como tais e combatê-los desde sempre. Sem democracia não há imprensa livre, porque imprensa sempre haverá. E vice-versa.

O nosso jornal também foi vítima de ameaças pós ataques golpistas. Ao informar os acontecimentos em Brasília, alguns inconformados postaram mensagens de ódio e apoio à barbárie. Teve quem pegasse o telefone e ligasse para me ameaçar. Salvei a foto do raivoso e agora qualquer nova intimidação tomarei medidas cabíveis e legais contra o mesmo. Não podemos aceitar brandamente que nossa democracia seja ameaçada e que os criminosos que tentaram derrubá-la passem impunemente. A imprensa precisa caracterizá-los como são, criminosos que merecem o rigor da lei.