Mentalidade elitista
11/11/2022 às 08h39
Cathierine Hoffmann - Jornalista
Jornalista, formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Comunicadora multimídia, assessora de imprensa e editora reponsável do Expressão Regional
Na semana passada escolas particulares de Porto Alegre foram palco de manifestações discriminatórias e discurso de ódio por parte de alguns alunos, inconformados com o resultado das eleições. Os estudantes fizeram ofensas classistas a apoiadores de Lula em vídeos nas redes sociais. Nas declarações os estudantes ficaram ironizando a diferença entre a vida de pessoas de maior e menor poder aquisitivo, além de mencionar eleitores do PT, pessoas negras e pessoas consideradas gordas. Resultado de uma educação deficitária. Sim, mas eu acredito que é muito mais. O brasileiro é elitista em sua maioria, mesmo aquele que não tem dinheiro.
Na última segunda-feira estive na sessão da câmara de vereadores de Salvador do Sul e a noite exemplifica muito bem essa postura do brasileiro. Um dos projetos a ser votado era sobre o pagamento de horas extras aos servidores públicos municipais, de carreira ou cargo em comissão. Pelo menos três vereadores se esmeraram em deixar claro que votariam contra o projeto, pois não aceitavam o pagamento de hora extra. Lembrando que, todos são cobertos pela CLT, assim como qualquer outro funcionário de alguma fábrica ou indústria. Pela lei brasileira trabalhista as horas além da jornada devem ser pagas com adicional de pelo menos 50% do valor da hora normal ou compensadas por meio de banco de horas. Mas os vereadores pediram vistas para avaliar melhor. É inconstitucional não prever ou o pagamento ou o banco de horas. Qual a dúvida?
Porém, quando foi apresentado um projeto de isenção fiscal e incentivos para uma empresa do município que vai fazer uma implantação de R$ 15 milhões, os vereadores não questionaram e aprovaram sem ressalvas. O detalhe é que aqueles que votaram a favor desse projeto da empresa e se mostraram contra o projeto das horas extras aos trabalhadores são trabalhadores de jornada como os servidores públicos. Ninguém deles era representante de empresariado. Então, porque a falta de compreensão, sendo que são da mesma classe?
A verdade é que grande parte da nossa população ainda possui um comportamento da herança colonial, fazendo dele elitista e rejeite qualquer política de combate às desigualdades sociais. A origem disso frequentemente é esquecida mas remonta ao escravismo colonial. Isso faz com que momentos como o visto na câmara de vereadores sejam comuns no nosso dia-a-dia, pessoas com um mínimo de superioridade, seja de poder ou de renda, seja um elemento decisivo para criar uma autoestima individual e se tornar uma fonte de rejeição a projetos e políticas que melhorem a vida de outras pessoas, socialmente ou de redução das desigualdades no país.
Que possamos resistir e aprender com isso. Não devemos tolerar preconceitos, não devemos nos calar diante das injustiças, e principalmente, devemos estar vigilantes aos nossos direitos. Sempre tem alguém querendo que você não prospere por pura falta de consciência cidadã.