O desafio da parentalidade

03/02/2025 às 15h41

Dra. Anelise Meurer Renner

Dra. Anelise Meurer Renner

– Psicóloga (CRP 07/23515)

O desafio da parentalidade
O desafio da parentalidade


Dias atrás, assistindo um vídeo curto de uma rede social me deparei com uma provocação que me prendeu a atenção. A pessoa que gravava o vídeo falava sobre o discurso recorrente na nossa sociedade: a ideia que morreríamos pelos nossos filhos. Provavelmente, a maioria de nós já ouviu alguém falar desta forma ou até mesmo pensou assim sobre os próprios filhos. A premissa é simples: enquanto pais, estamos dispostos a abrir mão de muitas coisas, inclusive a nossa própria vida, se for preciso para proteger os nossos. Um sentimento nobre, reconhecido e valorizado por muitos de nós.
Mas o ponto central do vídeo, que me capturou naquela altura, trazia um questionamento: ao invés de morrer pelos filhos, tu estás disposto a viver por eles? Estaria disposto a construir uma vida que vale a pena ser vivida, percebendo os nossos defeitos, nossas limitações e buscando melhorar nessas questões? Olhar para si mesmo e reconhecer os pontos que podem ser aprimorados é uma das coisas mais corajosas que uma pessoa pode fazer. Enfrentar as próprias vulnerabilidades exige força e disposição para tolerar o desconforto. Esse processo de transformação raramente é linear; ele envolve altos e baixos, avanços e retrocessos. Viver pelos nossos filhos pode significar coisas diferentes para cada família. Para alguns o ponto principal pode ser ter hábitos mais saudáveis: como praticar exercícios físicos, melhorar a alimentação ou parar de fumar. Para outras, a questão central pode ser encontrar tempo de qualidade para a convivência em família: estar - de fato - presente, dedicar um tempo para estar atento, ouvir, brincar e criar memórias. Esse processo exige um olhar atento para perceber, na singularidade da nossa família, o que precisamos. Esses valores, comportamentos e atitudes não são apenas ensinados por palavras, mas também pela observação. Os filhos aprendem com o exemplo dos pais, como um modelo a ser seguido. No fim das contas essa é uma forma de investimento a longo prazo. O que mostramos e vivemos hoje é o que eles carregarão amanhã. O nosso compromisso em melhorar como pessoas, para sermos modelos mais saudáveis e equilibrados, pode ser o maior legado que deixamos a eles. No final das contas, a verdadeira questão não é se estaríamos dispostos a morrer pelos nossos filhos. A pergunta mais relevante é: estamos realmente dispostos a viver por eles? A viver de maneira plena, honesta e comprometida com o nosso próprio crescimento, para que possamos, de fato, ser o tipo de pessoa que queremos que eles se tornem? Isso, sim, é um legado que dura mais do que a vida. É a chave para um futuro mais saudável e consciente, não só para os nossos filhos, mas para a sociedade como um todo.